Nós somos a Luh e o Jean, moramos há 8 anos na Europa e essa é a nossa história.
Tudo começou em 2014, quando o Jean fez uma viagem de trabalho de 1 mês pela Europa.
Naquela época já estávamos casados há 7 anos e morávamos em Curitiba. Na verdade o Jean já morava lá 5 anos antes de casarmos, pois trabalhava com carros em uma montadora nos arredores da capital paranaense. E eu só fui para lá quando nos casamos. Mas todo final de semana voltávamos para nossa cidade, a cidade onde nasci e cresci, e onde o Jean passou toda a sua adolescência: Florianópolis.
Tínhamos uma vida tranquila, faziam 3 anos que havíamos comprado nosso primeiro apartamento, cada um tinha o seu carro (na verdade tínhamos 3), o Jean trabalhava com o que ele sempre amou, carros, e eu estava fazendo faculdade – sou 12 anos mais nova do que ele.
Então chegou o ano de 2014 e o Jean embarcou para mais uma das suas viagens a trabalho. Essa viagem era diferente das outras, pois dessa vez ele iria ficar um mês inteiro entre a Romênia e a Alemanha. Ele já havia viajado outras vezes a trabalho. E inclusive morado por alguns meses na França enquanto trabalhava por lá ligado à empresa do Brasil. Mas foi a primeira vez que ficamos tanto tempo longe depois de casados.
E foi realmente um marco nas nossas vidas. Não por causa do tempo e distância, mas por acender um sonho antigo que o Jean sempre teve e nunca havia me contado.
Ele sempre amou carros, desde pequenininho, e conseguiu realizar parte desse sonho fazendo faculdade de engenharia e trabalhando em uma montadora no Brasil.
Mas ainda não havia realizado o sonho de verdade. Pois o que ele realmente queria era trabalhar no berço da indústria automotiva: Stuttgart, na Alemanha. Para quem não conhece, essa é a cidade onde nasceram e estão as sedes da Porsche e da Mercedes-Benz, duas das mais prestigiadas marcas automotivas do mundo.
Durante essa viagem ele me contou seu grande sonho e sua vontade de realizá-lo naquela altura. E quando voltou para o Brasil, seus olhos brilhavam! Brilhavam por ter pisado naquela terra e reacendido assim essa chama que havia sido deixada de lado há vários anos, e também por tudo que presenciou por lá, como a segurança, o poder de compra e a qualidade de vida em geral.
Diante de tudo o que ele me relatou, ficamos muito mexidos em fazer algo nunca antes pensado: sair do Brasil. Ficamos realmente encantados, comecei a pesquisar tudo o que conseguia na internet, era realmente um sonho! Não só poderíamos realizar o sonho pessoal do Jean, mas alcançar algo que nunca teríamos, ou dificilmente teríamos a possibilidade de alcançar no Brasil. E num futuro não tão distante, poderíamos proporcionar uma qualidade de vida incrível para os filhos que pretendemos ter um dia.
No entanto, mesmo perante algo inigualável, ficamos realmente travados, nos questionamos e não vimos a possibilidade. Como ficaríamos longe da nossa família que víamos todo final de semana? E como seria todo esse processo? Como fazer tudo isso de forma legal? Onde e como encontrar emprego? Dinheiro para tudo isso? E a língua então, alemão? Se tivéssemos ao menos uma cidadania europeia. Mas nem isso tínhamos. Era demais para nós. Seria incrível! Mas não conseguimos ver a possibilidade daquilo acontecer conosco – pelo menos não naquele momento.
Então começamos a pensar em talvez fazer uma viagem de férias e conhecer melhor o país. Mas morar e trabalhar lá estavam fora de cogitação.
Foi então que chegou a copa do mundo e sofremos aquele inesquecível 7 a 1. Para a maioria dos brasileiros, aquele foi uma espécie de soco no estômago. Mas para nós foi um sinal muito claro de que não deveríamos desistir ainda do nosso sonho.
Com esse sinal claro não pudemos ficar de mãos atadas. Comecei a pesquisar novamente quais seriam as possibilidades. No entanto, o que encontrei não estava exatamente a nosso favor. A Alemanha tinha bastante restrições para que conseguíssemos morar lá. O mais fácil seria conseguir um emprego primeiro, mas em todas as entrevistas que conseguimos exigiam um nível de alemão que seria quase impossível de conseguir com apenas um cursinho no brasil – ao menos a curto prazo.
Mas sendo eu uma boa detetive digital, depois de algumas pesquisas, descobri o que poderia mudar o rumo da nossa história.
Existia um tipo de visto que nos dava a possibilidade de morar na Alemanha por alguns meses enquanto buscávamos emprego. Era obrigatório ser um emprego
na área dele, com um salário base relativamente alto. Mas assim, podíamos aprender alemão o mais rápido possível, conseguir emprego e ficar por lá.
Então começamos a estudar alemão e preparar tudo o que era necessário para alcançar esse objetivo. Reunimos toda a documentação, fizemos todos os procedimentos legais, traduzimos e fomos para a embaixada fazer o pedido. E depois de algumas semanas recebemos a resposta: ele foi negado.
Nós estávamos com tanta espectativa, com tantos planos, e lá estava a nossa resposta.
Mas é claro, não nos deixamos abalar! Continuamos a seguir o sinal do 7 a 1
e nos preparamos para refazer cada passo para conseguir nosso sim. Naquela altura estávamos tão esperançosos e convencidos que conseguiríamos que começamos a dar passos maiores. Vendemos nossos carros, nosso apartamento e aplicamos o visto novamente.
Agora era tudo ou nada!
Foi um momento realmente desafiador e tenso. Mas depois de algumas semanas o Jean conseguiu o sim! Finalmente poderíamos comprar a passagem, fazer as malas e embarcar o quanto antes para usufruir ao máximo do prazo limite de 7 meses do visto que começava a valer dali 7 dias.
E assim aconteceu, dentro de menos de uma semana embarcamos para Frankfurt somente com duas malas, duas caixas com alguns pertences, meu violão, nossas bicicletas e nossas duas gatinhas.
Foi assim por pouco mais de um mês, até que conseguimos encontrar um pequeno e velho apartamento em que o locador aceitou nossa aplicação. E enfim, depois de algumas semanas, conseguimos um lugar para chamar de lar, mesmo sendo um apartamento muito antigo e desajeitado. Naquela altura era para nós como um verdadeiro palácio!
Mas, mesmo com um lugar para chamar de lar, nada estava garantido. Ainda não tínhamos emprego. Foram meses de procura, entrevistas e nãos. Tudo por um único motivo, o alemão não era o suficiente ainda. No entanto, não poderíamos desistir!
Mesmo assim, tínhamos o que comemorar. Graças a uma amizade que fizemos logo que chegamos, descobrimos um visto que poderia me manter legalmente na Alemanha por vários meses. No entanto, eu precisava entrar em um curso intensivo de alemão. Era uma ótima solução, se não fosse o fato de custar um preço exorbitante. Não que não pudéssemos pagar. No entanto, o dinheiro que tínhamos era somente nosso, do nosso esforço e de tudo o que nós havíamos nos desfeito no Brasil.
Eu tinha a garantia de ficar mais alguns meses, mas só restavam 4 meses para conseguir o emprego. Então começamos a abrir o leque de possibilidades e começamos a cogitar aplicar para vagas além dos limites de Stuttgart. Quando, de repente, sem esperar, recebemos um e-mail. Nesse e-mail havia um convite para trabalhar na Áustria. Um país desconhecido para nós até então.
Primeiramente ficamos receosos de aceitar, mas depois pensamos: por que não? Vamos ver para onde isso nos leva. E sem compromisso embarcamos para Graz, na Áustria, a quase 700km de Stuttgart.
Viemos juntos, é claro, não só para a entrevista, mas para conhecer a cidade, pois de nada adiantava um emprego em uma cidade onde não nos sentíssemos em casa. Passamos um final de semana lá. Era final de dezembro, quase natal. E como clima típico de Graz, havia um pesado nevoeiro sobre a cidade, todas as árvores sem folhas e corvos gralhando. Apesar de nada diferente de qualquer cidade da Europa nessa época – o que hoje em dia estamos totalmente habituados – ficamos extremamente desconfortáveis e inseguros em morar ali.
Mas, mesmo assim, chegando a segunda-feira, o Jean fez a entrevista, e para nossa surpresa, conseguiu um pleno sim!
Voltamos para Stuttgart e começamos a estudar as possibilidades. Como era de se esperar, depois daquele final de semana nebuloso, decidimos arriscar e esperar em Stuttgart. Aquela cidade era nosso objetivo, ou ao menos a Alemanha. Hoje, olhando para trás, vemos claramente o quanto estávamos cegos e cheios de preconceito, considerando o quanto a Áustria é linda e perfeita para se morar.
Mas de fato isso aconteceu.
Decidimos nos arriscar e ficar mais alguns meses em Stuttgart. Continuamos vivendo nossa vida por lá, estudando alemão, aplicando para novas vagas, fazendo entrevistas. Além de tudo, estávamos apaixonados por aquela cidade. Mas aparentemente ela não estava por nós.
Então, quando faltavam apenas 4 semanas para o visto do Jean acabar, decidimos pôr um basta nisso tudo. Sabíamos que não havia mais muitas opções e precisávamos tomar uma decisão definitiva. Então, depois de horas a fio discutindo sobre os pontos positivos e negativos de cada opção, decidimos entrar em contato com a empresa da Áustria e aceitar o emprego lá.
E para nossa infelicidade naquela altura, aquela vaga já havia sido preenchida. Ela não existia mais.
Contudo, havia uma vaga, com um salário ainda melhor, em um cargo acima do que o Jean já tinha experiência. Era desafiador, mas ele tinha todas as capacidades para fazer acontecer. E enfim estávamos oficialmente empregados, mas em um outro país. E novos desafios estavam por vir.
Precisávamos refazer toda a documentação no Brasil em tempo recorde e aplicar para um novo visto, desta vez um visto de trabalho. Caso não conseguíssemos a tempo e o visto da Alemanha expirasse, precisaríamos ficar por pelo menos 90 dias fora da Europa para então retornar.
Graças a Deus tivemos o apoio de alguns familiares, e mesmo com tudo contra, conseguimos realizá-lo – exatamente na última semana do visto da Alemanha.
Logo que saiu nosso visto conseguimos um lindo apartamento e nos mudamos
para a Áustria, e aqui estamos até hoje, quase 7 anos depois.
O que fica de aprendizado foi que mesmo que te chamem de louco – pois foi assim que nos chamaram – mesmo que nada pareça a favor, acredite nos seus sonhos, tenha fé e realize cada ação e tome cada decisão como se tudo estivesse sendo encaminhado para o resultado que deseja alcançar.
Talvez as coisas aconteçam de uma forma diferente do que você imaginava – e muito provavelmente vão acontecer. Mas tenha certeza que o resultado será surpreendente e muito maior e melhor do que você pode imaginar.
Hoje nós olhamos para trás e vemos o quanto foi importante ter essa atitude, mesmo nos momentos mais desafiadores e amedrontadores. E a lição que fica para nós e que passamos para frente é: tenha fé e siga seus sonhos.